Necrosópolis pós-moderna

Dr. Emitânio Prado costuma ler o Estadão de domingo. E leu com interesse e proveito a entrevista concedida por Edésio Fernandes ao suplemento Aliás – bolsões de sonhos perdidos.

Diz que achou a entrevista excelente. Para ele, o Prof. Dr. Edésio Fernandes criticou o que deveria ser criticado. “Mostrou-se claramente contrário à glamourização da favela”, o que lhe pareceu realismo e crítica.

Considerou correto o diagnóstico que o urbanista fez da esquizofrenia governamental provocada por essa espécie de fome específica de apoio político – “salvar a construção civil é uma aposta de futuro e o futuro bate às portas”!

“Por sorte”, diz Ermitânio, “o doutor londrino não fez o elogio do bom malandro – avatar recuperado pelas esquerdas para traduzir o novo homem que é puncionado do centro da periferia. Nem de suas capas criativas que surgem como exantemas urbanísticas formando a necrosópolis pós-moderna”.

Uma coisa incomoda o Dr. Ermitânio no discurso do ilustrado professor: a associação do direito civil com o “privatismo”, que na verba edesiana seria uma espécie de contra-discurso reacionário que se articula contra o urbanismo e os interesses sociais. “Pudesse ver como se formou o ius civitatis”, diz Ermitânio, “melhor ainda, como surgiu o direito das gentes, como nasceu (rectius: como se percebeu) o direito comum, e veria que as fontes do direito privado remanescem como a seiva poderosa da construção que confirma o gênio humano”.

Dr. Ermitânio é romântico. Opõe Schiller a Pound; Goethe a Joyce; Wagner a Schömberg. Para ele, “a cidade moderna é um horroroso punctus contra punctus, espécie de serialismo integral que perdeu suas referências e navega deslumbrada entre o caos e a malcriadez”.