Claudemir Daurélio e Anselmo Marcos Mendes

Amigos e amigas. Escreventes.

Hoje é o nosso dia. Uma vez escrevente, sempre escrevente!

Eu fui um escrevente, como hoje são muitos de vocês. Passei pelas mesmas agruras, dificuldades, alegrias e tristezas. A vida não é fácil, mas é linda. E é única.

Escrevi há pouco exatamente isso no memorial do FB de um colega, Claudemir Daurélio, escrevente que um dia foi como todos nós e que já partiu. Ele não está entre nós, acha-se nalgum lugar deste maravilhoso universo, tão belo e misterioso.

Nós, os escreventes de hoje e do amanhã, nunca nos esquecemos dos nossos irmãos. Somos uma família, uma frátria. Viemos com uma missão nobre à Terra dos Homens. Cada um de nós leva inscrito nos corações esta aventura de engastar-se e emaranhar-se na história de uma das mais antigas instituições do mundo. Nós nos confundimos com a escrita e por isso somos chamados escreventes

Parece banal, soa ordinário, corriqueiro o que vivemos no dia a dia de um Cartório.

Às vezes enxergamos na faina do ofício um verdadeiro sacrifício que é a diuturnidade da nossa atividade.

Entretanto, pensem na palavra “sacrifício” = sacer e facio = sacro fazer, sacro ofício. Ela é reveladora da nobreza da atividade de escreventes – aqueles que escrevem.

Rafael Nuñez Lagos proclamava que “no princípio foi o documento. E o documento criou o notário”. Amigos, cada palavra inscrita nos livros de registro representa uma averbação perene no belo Livro da Vida.

Nunca se esqueçam: “dar fé”, como damos aos nossos registros, é um ato sagrado e é por isso que dizemos que o ato feito e acabado acha-se “consagrado” nos livros de registro. As nossas certidões são expressão da verdade.

Uma vez escrevente, sempre escrevente! – o referido é verdade e dou fé.

FELIZ DIA DO ESCREVENTE.

Antes que o texto se esvaia feito o perfume da rosa que fenece na madrugada, deixe-me dizer quem são as figuras da foto.

O primeiro deles é ANSEMO MARCOS MENDES. Ele foi um escrevente no Primeiro Registro de Imóveis de São Bernardo do Campo, São Paulo. Um homem singular, opiniático, o que pode ser considerado uma expressão do seu tempo.

Trabalhávamos no registro. Hoje diríamos – “na qualificação”. Anselmo era eficiente, rápido, inteligente. Tinha sacadas hilárias, um sorriso lindo e generoso. Fazia as coisas em parceria com outro escrevente, Gilberto Bonício, hoje escrevente do 15 SRI de São Paulo.

Já o segundo é o CLAUDEMIR DAURÉLIO, um anjo delicado e nós o chamávamos de “Nenê”. Ele provinha de uma família cuja característica mais marcante era a singeleza, a pureza de alma. Traziam não sei de onde essa docilidade ímpar, cativante, singular… Há algo de espiritual e profundo na personalidade do amigo que me escapa completamente. Ele era irmão de Odair Daurélio, outro anjo que nos deixaria antes dele.

Odair amava as orquídeas, o Nenê era o amigo doce e terno, amoroso, bom ouvinte. Lembro-me dos dois assim, juntos; eram, ambos, a expressão de uma estirpe de homens bons e pacíficos.

Anselmo e Claudemir, como tantos do meu tempo de escrevente, partiram muito cedo. Deixaram sementes que hão de germinar e nos darão o testemunho do que foi o homem e o profissional.

Aos poucos tudo se esvai e perime. Ficam as inscrições e registros que lavramos. Assim é o homem e suas obras.

Dia do escrevente de cartório

Comemoramos, neste 3 de junho, o “dia do escrevente de cartório”. A efeméride está registrada na Wikipédia e vale a pena relembrar algumas passagens relativas à data e a estes importantes personagens dos cartórios judiciais e extrajudiciais – o escrevente de cartório.

No dia 9 de julho de 1953, o então deputado paulista Rogê Ferreira apresentaria, na Sala das Sessões Plenárias da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, o Projeto de Lei 648, de 1953, que dispunha sobre a comemoração do “Dia do Escrevente de Cartório”. Assim o justificava o deputado:

“Das mais importantes é sem dúvida a atuação dos escreventes de cartório na execução dos serviços judiciais e extrajudiciais. Classe numerosa e esquecida, ainda há pouco tempo estava sujeita às maiores injustiças por falta de leis que regulassem devidamente os seus direitos.

Após anos de luta em defesa de suas reivindicações, vêm os escreventes merecendo acolhida melhor. Numa justa homenagem a tão laboriosa classe e considerando magnifica a idéia sugerida em entrevista publicada pelo jornal “A Defesa”, de Campinas, no dia 3 do corrente mês, apresentamos o presente projeto de lei”.

O projeto apresentado trazia a assinatura de outro parlamentar, Alfredo Farhat, que empreenderia uma batalha contra os serventuários de justiça de São Paulo, buscando a “oficialização dos cartórios”.

O PL 648/1953 tramitou de maneira remansosa e contou com o parecer favorável da Comissão de Constituição e Justiça da ALESP (Parecer 613, de 16/6/1953).

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