Antes de compartilhar com vocês o texto do discurso de despedida do Irib, creio deva justificar a opção pelo tom algo hippie e inesperadamente emocional da fala.
Tinha que fazer um discurso sobre realizações, rumorar o que havia feito à frente do Instituto nos longos 5 anos que me mantive na presidência. E isso me chateava sobremaneira, pois sabia que era tradição do Instituto listar, em elenco aborrecido, as realizações empreendidas, os fatos vividos, os projetos concretizados…
Mas isso tudo já não me concerne, pensei. Que faço eu aqui e agora?
Assim estava quando, a poucos minutos da peroração previsível, a ser irradiada do púlpito, fui tomado pela melodia de I had a dream, uma canção de John Sebastian cantada nos dias pacíficos e idealistas de Woodstock.
I had a dream last night
What a lovely dream it was…
Assim surgiu o texto mal-ajambrado intitulado no BE
Eu tive um sonho…
Fez-se a nítida percepção de que fui um pequeno interregno – entre a ingenuidade matuta ecoada desde os impossíveis da serra até o yuppismo que toma debonairly a execução dos nossos destinos. Fui um pequeno lapso hippie, se é que me entendem – qualificado pela doce e elegante Gleci Palma Ribeiro que vislumbrou após o presidente samba-canção o inesperado presidente rock´n´roll.
Eu tive um sonho…
Um dia, há muito, tive um sonho. Um adorável sonho.
Sonhei que o Registro despertava de um sono profundo, manso, tranqüilo e duradouro. Vi que despontava em tímidos movimentos, reforma-se em impulsos de renovação. Logo se faria mais firme, rápido, intenso; um movimento seguro e certo. Um registro que atingindo afinal o termo de um longo ciclo, agitava-se agora em ondas de transformação.
Em tive um sonho de mudanças. Um sonho de renovação.
Estava em minhas mãos tocar este velho companheiro, impulsioná-lo tão suavemente quanto pudesse para realizar o seu grande destino.
Mas quem sou eu, meus amigos?
Como o poeta, poderia dizer:
“Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim
todos os sonhos do mundo”.
Eu tive o sonho de mudar o registro de imóveis no Brasil.
Um humilde sapateiro sonhava e simplesmente se olvidava das parcas sandálias.
Meus amigos, eu tive um sonho. E nele acreditei profundamente.
É chegada a hora de lhes entregar, nas mãos de meu sucessor Helvécio Duia Castello – realizando o mais profundo e verdadeiro sentido da tradição -, o que pude realizar ao longo desses anos todos, confiado que além do Bojador, muito além de toda a dor, pode estar enfim… um novo começo? Talvez um novo sonho? Quem sabe uma nova esperança que se renova? Ou um novo registro?
Desejo-lhe toda a sorte nesta travessia meu caro amigo e presidente!
Uma honra ter podido estar lá a ouvi-lo. Um abraço, Sérgio.
As referências que apontam para esse magnífico sítio muito além-bojador são claras. Eu é que fiquei honrado em recebê-los. Meus queridos amigos!
Dr. Sérgio,
são insuficientes minhas leituras do Observatório. Pelo singela razão de que o acesso freqüentemente. E, em cada revisão, prospecto algo que lá se encontrava sem que houvesse a minha percepção.
Porém, nessas vésperas natalinas, ocorrem-me os Evangelhos. A História de Cristo – humano, público e filósofo. Conectam-se fantasia e realidade; espírito-imagem-razão; paz e guerra; Amor e ódio; Vida, morte e Existência. Pois bem, o registro foi um corpo frágil, socialmente existia como o homem sem raciocínio lógico – a maior obra da razão (MARITAIN) – até o Irib. A sua fundação foi o sopro que faltava. O peso de dirigi-lo equivale à envergadura da instituição.
Pelo carácter de cientificidade e educação, o instituto orienta os passos do registro de imóveis – social e técnico -, como a alma encaminha nossas tragetórias na Existência, porque presidi-lo é sempre renovar o seu ‘espírito’ (sua natureza) – aquele que não vemos, mas sabemos que existe.
Os Evangelhos revelam a filosofia cristã e – como não é incomum – muitas vezes é disvirtuada por seus leitores e intérpretes. As igrejas se perdem em desvairadas direções. Seus presidentes se desapegam de Cristo, do ‘espírito’ da obra cristã.
Tenho, ao seu caso, que a missão dada foi missão cumprida e, do Dr. Helvécio, ao suficiente que o conheço, não será diferente.
A renovação do registro está em se revigorar permanentemente em seu ‘espírito’, não se cansando jamais de protegê-lo.
Luiz Américo Alves Aldana