O velho Tirésias do registro estava cego desde a última diatribe corporativa. Sem ter como se furtar à emissão de um juízo – a exemplo da inafastabilidade da qualificação registral – caiu em privação pela ira de uma dama vestal na disputa intestina.
A contenda entre D. Flor e seus cinco maridos reclamava árbitros clarividentes. Enxergar as entranhas e patranhas dos negócios privados é sempre um risco, o Velho sabia. Meteu-se entre os deuses como alguém que se atira a uma triste sina. Não há escapatória nesses ritos de passagem.
Bem se lembrava o Velho. O contubérnio corporativo se instalara com furor; o tálamo aconchegante da matercula generatrix (“desde 1928”, reza o dístico moderno) despertaria as muriçocas erráticas e buliçosas, atraídas pelo fulgor desejante. “Tropismo corporativo”, definiria alguém. “Taxia nota-registral” arriscariam outros. O fato é que o centro de poder atraia com força. Ad inferos!
O sumo síndico, big.capo.br, com sua opulência de capas ventricosas e hálito cepáceo, bazofiava a respeito dos acidentes: “Dirijo a única dama virtuosa que representa todas as espécies”. Seu apetite e presunção desmesurados permitiriam, sem malferir a sintaxe, declarar: “Digiro a única dama virtuosa…”.
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Mas tudo termina; tudo fenece. De dona Flor despetalada se pode dizer: finire morbo! E assim estamos todos nós, à espera de um veredito mais do que de um concerto. Assim devolvem-se velhas questões ao Velho cego que vê”.
Meus desígnios ao Mestre, com carinho”!
Bela e finíssima escrita, Sérgio!
Acabei de ler As Pequenas Memórias, do Saramago.
Poucos escrevem com tanta maestria.