Sonhos de uma noite de outono

A semana foi verdadeiramente estressante para os registradores brasileiros.

Depois de uma aprovação relâmpago, a MP 459, convertida em projeto de lei, segue ao Senado Federal, onde restam as últimas esperanças de recomposição moral.

As emendas foram apresentadas no calor dos debates. Algumas lavradas inter femoris.

Depois de experimentar o desgosto assistindo ao jogo “democrático”  da conversão pela TV, Dr. Ermitânio teve pesadelos. Cochilou na sua poltrona Sheriff e foi transportado para um cenário composto de paisagens urbanas desoladoras, repleta de fealdade e violência.

Diz que via, ao longe, hordas de hominídeos defecando em bancos de praças e pixando as colunas das catedrais. 

“Nenhum grupamento, nenhuma atividade social, nenhuma iniciativa humana – salvo o radical niilismo e o terrorismo – resistirá sem a blindagem política, social ou institucional. São as capas da invisibilidade que revestem os pequenos superhomens da administração e emprestam importância aos superbarnabés”, brada Dr. Ermitânio.

E segue pontificando:

“Vivemos a era do esgotamento dos conteúdos. Precipitamos no mundo dos simulacros. Já não importa mais nada. As essências estão reservadas para o compartimento místico que se aninha num relicário mitológico escondido atrás das telas hipercoloridas do tv a plasma.

Às vezes a realidade ressurge, inesperada, como a doença que ferroa ou o sexo que desperta em ondas dionisíacas de calor e esgotamento.

Resta-nos a angústia existencial, que irrompe qual uma estrela negra que vacila e esboroa-se sobre si mesma.

Acho que o Dr. Ermitânio necessita de férias.

2 comentários sobre “Sonhos de uma noite de outono

  1. A questão é simples: hoje o acesso aos “cartórios” é por concurso público. Não há mais ” falar-se em privilégios”. Quem acha que cartório é um bom negócio, que se submeta ao respectivo concurso e conquiste o seu, em vez de fazer como estes “bestas feras” que ficam dando canetadas por aí praticando assistencialismo barato. Eu era funcionário público federal, mas especificamente da Receita Federal. Imaginei que um Registro de Imóveis seria um paraíso… Fui aprovado aqui em Minas Gerais e cá estou, desiludido com a dura e injustíssima realidade que enfrentamos hoje: tudo de graça para todo mundo, basta se enquadrar em uma categoria…

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