Já aludi, em outro post, que o chamado protokollon, a primeira kollema que inaugurava o rolo de papiro, tinha finalidades fiscais e arrecadatórias, além, é claro, de proporcionar certas garantias de autenticidade do próprio documento.
Para os que me acompanham nesta jornada, hoje reproduzo o pensamento de autores que se debruçaram sobre o assunto. São especialistas, como é o caso de David Diringer, que escreveu um livro muito útil para se conhecer a história dos livros – The book before printing – ancient, medieval and oriental. (New York: Dover Pub. 1982, 603 p.). Diringer foi lingüista, paleógrafo e escritor britânico e vale a pena acompanhá-lo na descrição que nos dá sobre a manufatura de livros escritos em papiros.
Diz Diringer que a estranha planta de papiro foi uma amiga dos antigos egípcios, substituindo a madeira, que nunca foi abundante no Egito. O papiro foi utilizado de diversas maneiras: a partir dele se contruíram barcos, navios, canoas, se fizeram tapetes, cordas e sandálias, além de cobertores e roupas. Foi igualmente utilizado como combustível e, segundo alguns estudiosos, podia ser cozido para comer e de seu suco se preparavam doces e bebidas.
Acima de tudo, diz Diringer, o papiro supria o principal material utilizado para a escrita e, como tal, formava o principal ítem na pauta de exportação. O cultivo e comercialização do produto parece ter sido um monopólio público no Egito.
Cita o exemplo do Papiro Tebtunense (Tebtunis Papyrus, ao lado) que, segundo ele, dá provas de que o cultivo e comercialização do papiro se tratasse de um verdadeiro monopólio. Citando Frederic Kenyon, diz que a coleção contém o recibo referente a 20 mil caules de papiros.
Na época romana, o comércio de papiro se tornou um monópolio imperial.
O mais importante, para estas notas, é a afirmação de que o comércio de papiro se converteu em monopólio estatal em Bizâncio (e depois sob os domínios árabes), e a primeira página do rolo trazia o sinal público que indicava o controle da produção e distribuição do produto, além do pagamento das taxas: “the first sheet of each roll or bale was stamped with the state-real stamp (in Moslem times, in Greek and Arabic), wich proved that the duty was paid”. (DIRINGER, 128).
A primeira folha do rolo de papiro era chamado de protocolo. A estampilha oficial indicava que os impostos haviam sido pagos.
No mesmo sentido Naphtali LEWIS (Papyrus in classical antiquity. London: Oxford, 1974, 149p.):
A few terms compounded on the kollema base are relevant to the discussion. The macrocol(l)um (…) was the name of an extra-wide sheet of paper on wich several columns would be written. Then, there was the practice, begun under the Byzantine emperors and continued by the Arab rulers of Egypt, of certifying the satisfaction of the fiscal interest in papyrus manufacture by inscribing the first page of a papyrus roll with a stamp-like calligraphy. Originaly at least, the page so inscribed, rather than the inscription itself, was termed protocollum. The key text is Justinian, Nov. XLIV, 2 (…)”. (LEWIS, 82)
O texto da Novela justinianéia acha-se publicada aqui mesmo. A propósito dela, segue LEWIS:
The protocolum is characterized as ‘attached’, ‘inserted’, and ‘inscribed’ – or, as the ancient translator of the so-called Authenticum renders this last, ‘protocollum non ita conscriptum sed aliam quandam scripturam gerens’. In the language of the Novel, then, protokollon is the first sheet of the roll”. (LEWIS, 82).
to be continued… SJ